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Mostrando postagens de janeiro, 2014

NÃO SENTIR

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O que só eu vejo é o que me assusta mais. É um tipo de medo sem calafrios. Aquela dor que está ali e não dói mais .  O não sentir é o que existe do outro lado, como um buraco negro. O silêncio é testemunha que não depõe. Ele viu tudo, ele sabe tudo, ele tudo atrai.

O AR QUE EU RESPIRO

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Um dia eu desejei estar no palco. Reconheci minha vida ali e não esqueci mais.  Os anos passando e uma agonia seca me sufocava ao ponto de inundar meus olhos, quase me afogando, dentro de um ônibus qualquer a caminho de mais um trabalho. Pensei: "talvez seja tarde demais" - e a vida me responde de um jeito inusitado, com uma frase que ouvi de um grande ator que começara sua carreira aos 35 anos, proferida em uma entrevista dada à um programa banal de TV qualquer. Estava eu num bar, perdido e sujo, num lugar onde nunca havia estado antes. Completamente sozinho. Creio que são em situações assim que o momento de decisão acontece, a chave acessa e a página vira. E dali me entreguei a viver no risco, expor os sentimentos, revirar as histórias interiores em busca de verdades, entregar o corpo, usar os movimentos e a voz para que a arte os usasse e produzisse o efeito que quisesse. Desde então, não sou mais o mesmo. Não me importo se melhorei ou piorei aos olhos de quem me viu u

Porque sim? Porque não.

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Se justificar acaba sendo sempre a pior reação que alguém poderia ter frente a um diagnóstico ou julgamento. É uma merda quando o diálogo não reflete realmente o que as pessoas querem dizer.  A percepção chega num nível incômodo tão esclarecedor que o mais correto é rir ou ignorar certos comentários previsíveis e seguir em frente com a sua própria verdade, mantendo a humildade para ouvir em silêncio ou a ousadia e maturidade para corresponder sem ironia e não enfraquecer relações construídas em confiança.  Egoísmo e carência todo mundo tem. Dá para continuar amando e apoiando sem entender.  E isto não é para os fracos.

PRAZERES SIMPLES

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Alguns prazeres são tão únicos e individuais que se tornam incompreensíveis quando compartilhados. É o que sinto agora vendo como as árvores espalham seus ramos, silenciosamente durante a noite, quando quase ninguém as vêem.

QUE VENHA PARA CALAR

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A capa da revista, vista de soslaio, dizia: Ouça o silêncio. Naquele café duplo admirava-se com a infinidade de gestos e significados entre o diálogo entusiástico de três mudos.  A louça lavada, a cama arrumada, a casa limpa, a roupa no varal - todas testemunhas devotas daquele dia.  O tempo suficiente de um monólogo entre dois, de um encontro sem ponto; o consumia.  Antes de fechar os olhos, a carta saltou do baralho e uma voz interior susurrou: "ouça o que a vida tem a dizer". A letra desenhava a forma: SILÊNCIO.  Antes de entregar-se, agradeceu pelas perdas até ali.  Sentiu a plenitude.  Permitiu o choro, quietinho, deixada a lágrima aquecer, afogado todo grito aflito daquela madrugada.  Disse "basta" - alto para si, sem perceber talvez que outros escutariam muito mais, quando fosse chegada a hora.  E assim o sono abraçou-o como aliado.