A capa da revista, vista de soslaio, dizia: Ouça o silêncio. Naquele café duplo admirava-se com a infinidade de gestos e significados entre o diálogo entusiástico de três mudos. A louça lavada, a cama arrumada, a casa limpa, a roupa no varal - todas testemunhas devotas daquele dia. O tempo suficiente de um monólogo entre dois, de um encontro sem ponto; o consumia. Antes de fechar os olhos, a carta saltou do baralho e uma voz interior susurrou: "ouça o que a vida tem a dizer". A letra desenhava a forma: SILÊNCIO. Antes de entregar-se, agradeceu pelas perdas até ali. Sentiu a plenitude. Permitiu o choro, quietinho, deixada a lágrima aquecer, afogado todo grito aflito daquela madrugada. Disse "basta" - alto para si, sem perceber talvez que outros escutariam muito mais, quando fosse chegada a hora. E assim o sono abraçou-o como aliado.