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Mostrando postagens de 2014

TRAVA LÍNGUA

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Já disse palavras de todos os tipos quem sabe tudo o que poderia ter sido dito as palavras exatas, as ditas prolixas as rasgasdas feito lixas fugindo como se não quisessem dizer prendidas por muito tempo saíram e só nas sutilezas de todas as certezas apreendidas vomitei contradições inverti rotas como quem arrota   sílabas curtas e grossas haviam também palavras lindas lisas, lânguidas grunhidos amorosos insossos distoantes da consoância de pensamentos verborrágicos assintomáticos, hemorrágicos, a psicossomatizar tatuagens escondidas meus ossos foram talhados de alfabeto antigo inaudito mas de significado profundo ora dizia mais vogais do que qualquer outra letra sabe o som que a gente finge que entende? é o ouvido restrito de dentro surdo abafado   graves intenções marcando ritmo sinto ao me lembrar   de uma voz cheia de efeitos e pouco sentido depois disso vieram as palavras mista

O silêncio que liberta palavras

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Recolhi muitas palavras.  E o silêncio invadiu-me para roubà -las .  Ouço desde então os vazamentos e os rangidos agredidos.  Os aparelhos continuam funcionando  mesmo quando não são vistos.  E  se desgastam.  Foi lá que o sussurro do vento  ficou parecido com a minha respiração.  Perturbou-me estar vivo desse jeito!   Pois o equilíbrio todo desorientando estava surdo.   Não me ouvia. Palavras guardadas num lugar onde não lembrava.   Pareceu me bem ficar assim : como terra sem do no,  onde o olhar não começa nem termina,  mas ninguém se apropria quando nela se encontra.   É o tipo de lugar onde a maioria das pessoas vai só de passagem. Quase ninguém tem coragem de ser morada de si mesmo.  Só me sabe o recomeço dessas cercas que não existem mais.  E a não existência pode ser assustadora.  Mas logo vem a serenidade.   Interessante como a ausência torna o futuro lento.   E passado é o mais acelerado dos tempos. Liberto, sinto meu presente fecundo.  Já posso fica

Momento presente

Um gesto. Um olhar. Um toque.A simplicidade O sorriso gentil.A companhia. Parceria. História. Toda simplicidade. O jeito de ser. Aprendizados. Pequenos carinhos. Grandes cuidados. Olhar de verdade. Ouvir de verdade. Saber de verdade. A diferença no mundo: querer ser. Evidências que valem todo o momento presente.

ESBOÇOS

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Não sei como se veste, nem quais são seus amigos. Qual é a tua cor e o que te descolore também. Mas eu provo do gosto de teu silêncio, pois bebemos de fontes parecidas.  E em algum rosto te reconhecerei por aí, mesmo que já tenha te visto. Quando te achar,  darei-me o direito de me perder. Agora já sei como voltar para mim.

CONVERSO COM OS BICHOS

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Natureza selvagem,  tempo orgânico regido pela chuva;  aqui eu converso com os bichos.  Todos, principalmente os de dentro.  Há de se desenvolver uma linguagem própria,  compreender territórios,  respeitar o ecossistema para a preservação  das espécies que em mim habitam.

FILHO DA MÃE

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Minhas lembranças de filho da mãe não são muitas. De quando eu caí e bati a cabeça e ela veio apertar uma faca com sal no galo que se formara, do cafezinho feito por suas mãos para entregar ao meu pai, numa obra acompanhada por ele exatamente do lado da casa onde morávamos, dos presentinhos manuais que eu fazia na escola e entregava para minha avó com certa frustração, e do inevitável dia da fuga,  após uma briga dela com meu pai e muitos objetos jogados no chão- e eu tinha lá pelos meus quatro anos - migalhas nervosas do tipo ' a mamãe vai embora mas ama vocês' . Cresci aprendendo que era errado procurá-la ou falar seu nome. Alice tinha nos abandonado, traído meu pai com o amigo, sumido do mapa. Até de macumba contra o meu pai e a então nova namorada, foi acusada. Cresci assim, meio sem colo, sem ventre, sem cordão umbilical. Passei boa parte da vida tentando me reconectar. Com o espiritual, reconheci por um tempo Maria como a mãe universal, mas, ainda na adolescência, parti

DESPEDAÇOS

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A perda chega a desconfigurar alguém. Dessa massa disforme, desse pedaço que falta e flutua, dessa ausência que nada preenche, dessa sombra tamanha onde é difícil acostumar o olhar sem luar, da matéria escura, do pó das estrelas, do céu que ainda se vê e não existe mais.... Ainda será Universo. A forma que encolhe para expandir. A Vida na minúscula partícula. A volta. O início que era - já foi um fi m. A dor de morrer talvez seja a mesma de nascer. E o que há entre estas... Ah, o que há... entre a dor de mudar de forma, de encaixar nos novos espaços, tornar presente e expandir, sobejar, gerar constelações que talvez nem vejamos frutificar no céu, lembrança do brilho do que um dia já fomos; será vida para os olhos de quem vê e se sente vazio, ofuscado por sentir-se perdido. Somos feitos dos mesmos vazios para preenchermos o espaço do todo. Mas tudo é mais além, não cabe em nós. Espaço de chão. O espaço é um pedaço de chão. 

NÃO SENTIR

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O que só eu vejo é o que me assusta mais. É um tipo de medo sem calafrios. Aquela dor que está ali e não dói mais .  O não sentir é o que existe do outro lado, como um buraco negro. O silêncio é testemunha que não depõe. Ele viu tudo, ele sabe tudo, ele tudo atrai.

O AR QUE EU RESPIRO

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Um dia eu desejei estar no palco. Reconheci minha vida ali e não esqueci mais.  Os anos passando e uma agonia seca me sufocava ao ponto de inundar meus olhos, quase me afogando, dentro de um ônibus qualquer a caminho de mais um trabalho. Pensei: "talvez seja tarde demais" - e a vida me responde de um jeito inusitado, com uma frase que ouvi de um grande ator que começara sua carreira aos 35 anos, proferida em uma entrevista dada à um programa banal de TV qualquer. Estava eu num bar, perdido e sujo, num lugar onde nunca havia estado antes. Completamente sozinho. Creio que são em situações assim que o momento de decisão acontece, a chave acessa e a página vira. E dali me entreguei a viver no risco, expor os sentimentos, revirar as histórias interiores em busca de verdades, entregar o corpo, usar os movimentos e a voz para que a arte os usasse e produzisse o efeito que quisesse. Desde então, não sou mais o mesmo. Não me importo se melhorei ou piorei aos olhos de quem me viu u

Porque sim? Porque não.

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Se justificar acaba sendo sempre a pior reação que alguém poderia ter frente a um diagnóstico ou julgamento. É uma merda quando o diálogo não reflete realmente o que as pessoas querem dizer.  A percepção chega num nível incômodo tão esclarecedor que o mais correto é rir ou ignorar certos comentários previsíveis e seguir em frente com a sua própria verdade, mantendo a humildade para ouvir em silêncio ou a ousadia e maturidade para corresponder sem ironia e não enfraquecer relações construídas em confiança.  Egoísmo e carência todo mundo tem. Dá para continuar amando e apoiando sem entender.  E isto não é para os fracos.

PRAZERES SIMPLES

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Alguns prazeres são tão únicos e individuais que se tornam incompreensíveis quando compartilhados. É o que sinto agora vendo como as árvores espalham seus ramos, silenciosamente durante a noite, quando quase ninguém as vêem.

QUE VENHA PARA CALAR

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A capa da revista, vista de soslaio, dizia: Ouça o silêncio. Naquele café duplo admirava-se com a infinidade de gestos e significados entre o diálogo entusiástico de três mudos.  A louça lavada, a cama arrumada, a casa limpa, a roupa no varal - todas testemunhas devotas daquele dia.  O tempo suficiente de um monólogo entre dois, de um encontro sem ponto; o consumia.  Antes de fechar os olhos, a carta saltou do baralho e uma voz interior susurrou: "ouça o que a vida tem a dizer". A letra desenhava a forma: SILÊNCIO.  Antes de entregar-se, agradeceu pelas perdas até ali.  Sentiu a plenitude.  Permitiu o choro, quietinho, deixada a lágrima aquecer, afogado todo grito aflito daquela madrugada.  Disse "basta" - alto para si, sem perceber talvez que outros escutariam muito mais, quando fosse chegada a hora.  E assim o sono abraçou-o como aliado.