DESPEDAÇOS




A perda chega a desconfigurar alguém.
Dessa massa disforme,
desse pedaço que falta e flutua,
dessa ausência que nada preenche,
dessa sombra tamanha
onde é difícil acostumar o olhar sem luar,
da matéria escura,
do pó das estrelas,
do céu que ainda se vê e não existe mais....
Ainda será Universo.
A forma que encolhe para expandir.
A Vida na minúscula partícula. A volta.
O início que era - já foi um fim.
A dor de morrer talvez seja a mesma de nascer.
E o que há entre estas...
Ah, o que há...
entre a dor de mudar de forma,
de encaixar nos novos espaços,
tornar presente e expandir,
sobejar,
gerar constelações
que talvez nem vejamos frutificar no céu,
lembrança do brilho do que um dia já fomos;
será vida para os olhos de quem vê
e se sente vazio, ofuscado por sentir-se perdido.

Somos feitos dos mesmos vazios para preenchermos o espaço do todo.
Mas tudo é mais além, não cabe em nós.
Espaço de chão.
O espaço é um pedaço de chão. 


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