ALGODÃO-AMARGO
Me olha. Cuida de mim.
Dá-me um brinquedo e leva contigo minha parte.
Parte de mim. Me parte e divide até hoje.
Me olha. Cuida de mim.
Dá-me um brinquedo e leva o pedaço ainda em formação.
Parte de mim. Me parte. Rompe.
Posso te chamar de pai, amigo, primo ou moço?
- Pai! Comi algodão-amargo!!
Tinha fome. Melhor que doce nenhum.
Depois daqueles dias, as cores mudaram...
Já as sei de cor.
Acostumei e todo dia luto para desacostumar.
A dizer mais não do que sim.
- Não pode, criança! É feio, não pode!
- Por quê? Não se pode amar?
Não uso mais brinquedos. Não uso mais nada.
Apenas brinco. Simplesmente vivo.
Meu filho está me chamando:
- Pai!?
- Oi filho, pode falar.
- Tô com medo do monstro.
- Filho, fica tranquilo, papai te ama.
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