MÓVEIS


Na desordem das minhas gavetas,
encontrei a lembrança das dívidas pagas,
os convites de eventos passados,
sobras de momentos doces
e os desejos acumulados nas ofertas
que um dia cativaram minha atenção.

O meu tato percebeu o tempo
amontoado em pequenas porções...
tantas chaves que só abriram portões.
Aquele combustível acumulado também estava lá.
Por tantas vezes o procurei nos bolsos vazios,
junto às moedas de nenhum valor,
como tantas outras que só fizeram pesar  relações.
Quando chego em casa só quero esvaziar-me das informações.

Todo mundo precisa de um criado mudo,
onde cada pedaço vira uma coisa só,
e só faz segredo quando está fechado
e só faz barulho quando se abre,
confuso, afirmando que tudo está ali
e ao mesmo tempo não.

A maior parte do que tem em mim deve ir.
Mas a menor parte do que tem ali também sou eu.
Um dia eu páro e tiro tudo do lugar,
pois sei que embaixo do pó ainda existirá
algo que sempre se esvaziará
pra começar tudo de novo
dando ao móvel sentido
e verdadeira função.

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